segunda-feira, 30 de novembro de 2009

##DO CONHECIMENTO NASCE A COMPETÊNCIA E O RIGOR…##

DO CONHECIMENTO NASCE A COMPETÊNCIA E O RIGOR…

…DA PAIXÃO NASCE O CONHECIMENTO!



O homem é feito assim e não consegue evitar tudo relacionar, tudo comparar a si próprio, ao seu próprio estado, acabando, por vezes, por tratar o seu cão como se fosse um ser humano, ou até mesmo, como uma criança. Mas, o verdadeiro respeito pelo cão, tal como o de qualquer ser vivo, não reside aí.

Situa-se na tomada de consciência, por todos nós, da verdadeira identidade da espécie canina. Identidade morfológica, biológica e, como é obvio, a identidade psicológica e comportamental, de uma condição animal profundamente adaptada, com o correr dos séculos, ao homem.

Assim respeitar o cão é respeitar, simultaneamente, o animal pré-histórico original e o animal moderno, fruto de uma evolução zoológica, pretendida e conduzida pelo homem.

O animal pré-histórico era, em primeira instância, um animal de matilha, obedecendo a uma hierarquia precisa no seio desta, quer instintiva quer imposta, fonte de eficácia da sua luta pela sobrevivência.

O animal moderno conservou, na sua natureza profunda, a mesma necessidade de integração hierárquica e integrou-se, efectivamente, graças a uma espantosa adaptabilidade, a todas as formas de sociedade e civilização humanas.

O cão é um animal social e hierárquico: espera, por parte do dono, a coerência, a consistência e o mesmo respeito que os seus antepassados encontravam na hierarquia da matilha.

Respeitar o animal significa, em primeiro lugar, respeitar as suas verdadeiras necessidades biológicas e psicológicas.

Esta atitude só poderá concretizar-se se for fundamentada na compreensão, na análise e na síntese dos nossos conhecimentos sobre a espécie canina.

O cão é sem dúvida, de todas as espécies animais presentes na Terra, uma das mais diversificadas; não só a sua forma adulta pode variar entre 1 e mais de 90 kg, como também se sabe, actualmente, que as raças pequenas, médias e grandes não possuem a mesma esperança de vida (8/9 anos para as raças grandes, 14/15 para as pequenas), nem a mesma duração de crescimento, nem o mesmo número de crias por ninhada (1 a 3 para as raças pequenas, 8 ou até mesmo 12, para as grandes). Para além disso, é um dado adquirido, hoje em dia, a existência de diferenças fisiológicas fundamentais, consoante o tamanho e tipo de raças: assim, por exemplo, o tubo digestivo de um cão de raça grande representa apenas 2,8% do seu peso total, contra 7% no caso de um cão de pequeno porte e 11% no ser humano, facto que explica numerosos problemas digestivos, ósseos e biológicos durante muito tempo não explicados, nomeadamente no caso das raças grandes e gigantes.

Por muito desculpável que seja, comparar o cão a um pequeno ser humano é um erro biológico que se pode revelar muito perigoso para o animal.

Respeitar o cão pelo que nos oferece e representa para nós, não se deve traduzir numa abordagem antropomórfica que procure transformá-lo, como frequentemente se ouve, “numa criança a quem apenas falta o dom da palavra”. A biologia é de tal forma, que criou a diversidade terrestre dos seres vivos, em que cada qual funciona como complemento dos outros para, assim, proporcionar um equilíbrio instável que o Homem não deve de forma alguma alterar.

Assim esse reflexo antropomórfico, por muito desculpável que seja em função de sentimentos, por vezes intensos, que manifestamos pelos nosso cães, deve ser excluído, pois não respeita o funcionamento biológico e fisiológico do cão e, por via das suas consequências, é susceptível de constituir um perigo para o animal.



Bons exemplos desta realidade podem ser observados no campo alimentar:



- O Homem muda de alimentação a cada refeição sem problemas… mas se o seu aparelho digestivo tivesse uma concepção idêntica à do cão, esta variação alimentar contínua provocar-lhe-ia um estado permanente de diarreia!

- O Homem tem necessidade de alimentos cozinhados, de sal, de açúcar, de aromas gustativos e do aspecto visual do que lhe é apresentado no prato para poder desfrutar da sua refeição, mas se os seus sentidos fossem iguais aos do cão bastariam as emanações provenientes do alimento para uma apreciação completa…!

- O Homem pode, desde há milhares de anos a esta parte, consumir a sua refeição calmamente, sem correr o risco de se tornar presa de um predador selvagem, mas, se fosse um cão, a evolução teria imprimido nele esse reflexo de consumo rápido existente nos genes de qualquer animal a quem um congénere possa roubar a refeição ou ser atacado por um predador!



Portanto, o cão é um cão, apesar de este conceito não ser do agrado de todos, e deve ser apreciado, tratado e respeitado como tal. Aliás, tanto a ciência como o conhecimento vêm corroborar estes factos, se tivermos em conta os exemplos referidos.

A digestão é um exemplo típico das reacções e mecanismos próprios de cada espécie, cuja amálgama poderia revelar-se perigosa para o cão (ou para o Homem) face às suas diferenças flagrantes e comportamentos antagónicos.

Assim, de uma forma geral, o aparelho digestivo do Homem representa 10% do seu peso corporal, contra somente 2,7 a 7% para o cão em função do seu tamanho! Compreende-se melhor que seja mais fácil para o homem digerir alimentos mais variados.



A apreciação do alimento: o olfacto e o paladar não desempenham os mesmos papéis.

O cão, ao contrário do Homem, aprecia a alimentação, sobretudo graças ao seu olfacto. A superfície da mucosa olfactiva dos canídeos, consoante as raças, é de 10 a 100 vezes mais extensa do que a do Homem. A trufa de um Pastor Alemão, por exemplo, chega a possuir 200 milhões de receptores olfactivos, enquanto que o nariz humano mais apurado não possuirá mais de 20 milhões. O paladar, em contrapartida, contrariamente ao que muitas pessoas julgam, tem mais intervenção reduzida na escolha alimentar do cão. Por outro lado, enquanto o Homem possui 9000 papilas gustativas (as células que captam e analisam o gosto dos alimentos), o cão dispões apenas de um número 6 a 8 vezes inferior e, uma vez abocanhado o alimento, este é rapidamente enviado para o estômago.



Pré-digestão do alimento: da cavidade bucal até ao estômago.

O cão não mastiga os alimentos, engole-os, enquanto que o Homem os prepara para a digestão através de uma mastigação prolongada (da qual obtém prazer por via da libertação de aromas), tritura os alimentos, misturando-os com a saliva, realizando, assim, um primeiro processo digestivo através das enzimas nela contidas. Pelo contrário, no caso do cão, é o estômago que constitui o local privilegiado de desencadeamento dos processos digestivos.

O teor extremamente ácido do pH estomacal, em resultado da grande abundância de ácido clorídrico (6 vezes mais do que o ser humano), explica perfeitamente o papel purificador desempenhado pelo estômago no cão, que lhe permite dispor de uma barreira natural extraordinariamente eficaz contra as infecções digestivas.



Performance digestiva: uma herança genética.

Antigamente, o cão era um animal de matilha para quem era fundamental digerir rapidamente a presa, aproveitando ao máximo os elementos nutritivos nela contidos. Facto que explica a razão da maior rapidez do trânsito digestivo do cão comparativamente ao Homem (12 a 24 horas contra 30 a 48 horas).

A flora intestinal do cão é muito específica, contrariamente à do Homem (o omnívoro completo) que tem de se adaptar a alimentos tão variados como diversos tipos de carne, legumes, frutos… dispondo assim de uma flora bacteriana intestinal 1000 mais numerosa que a do cão!



Compreender estes elementos, analisáveis, também, sob outros ângulos funcionais biológicos, pressupõe compreender o cão e sobretudo aceitar a sua diferença em relação ao Homem, não apenas em termos de aparência ou pelo facto de que não possa “falar”. O antropomorfismo, por vezes excessivo, tal como é veiculado em certos filmes, por exemplo, não é só cientificamente inaceitável como, também, altamente prejudicial, podendo até reduzir a esperança de vida do animal.

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