quarta-feira, 5 de maio de 2010

Brasil treina 1º cão farejador de celulares em presídio


Ribeirão Preto, SP - Com um ano e oito meses de vida, Fuzil, um pastor belga de Malinois, passou os últimos sete meses em treinamento. E agora ele é o primeiro cão farejador de telefones celulares do Brasil, e o segundo do mundo. O animal pertence à Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), que poderá deslocá-lo para outras unidades prisionais, mas Fuzil é o mais novo "funcionário" da Penitenciária Masculina de Ribeirão Preto (SP). Ali, nos últimos dois meses, durante o seu adestramento, ele localizou 13 celulares na ala externa de progressão (regime semiaberto). "Ele é mais uma ferramenta no nosso serviço diário", disse o diretor da Penitenciária Masculina de Ribeirão Preto, Paulo Cesar de Barros.
"O cão é dócil e maleável, e fareja até no meio das pessoas", comenta Barros. Isso significa que o cão pode farejar entre os presos, mas não os detentos diretamente, já que tal medida é proibida. Em caso de suspeita, os presos devem ser revistados por agentes penitenciários. Aparelhos e baterias, carregadas ou descarregadas, são farejados pelo cão, adestrado para localizar odores de produtos que contêm silício, material usado nesses equipamentos.
No Estado de São Paulo, existem outros cães, de outras raças, ainda em treinamento para esse fim. Mas foi o pastor belga de Malinois quem deu a melhor resposta até agora. O treinamento de Fuzil, nascido em Goiânia, filho de mãe canadense e pai belga, terminou há uma semana. O animal vive entre 12 e 14 anos e sua "vida profissional" deverá ser de seis anos. "Nesse tipo de trabalho, ele é o único do País e o segundo do mundo", afirmou o seu adestrador, o agente penitenciário Cristiano Alex Sampaio. Segundo ele, um cão (não sabe qual raça e nem o local) estaria em atividade nos Estados Unidos, já com sucesso nesse tipo de operação. "Tentaram usar cães na Inglaterra, mas não deu certo", disse Sampaio.

##Instrutor mostra como cão-guia é treinado; assista##

A professora Maria Rosa Delmasso, 44, diz que perdeu a visão duas vezes. Há 18 anos, quando sofreu um descolamento de retina e em junho do ano passado, quando sua cadela-guia, Gabi, morreu.
"Como o cachorro 'devolve' sua visão, é como se você a perdesse novamente. Só que, desta vez, você perde muito mais, porque tem aquele amor pelo cachorro", diz.
Embora hoje seja o Dia Internacional do Cão-Guia, Maria está na fila para receber um substituto para Gabi há 11 meses, mesmo tendo prioridade por já ser acostumada a esse tipo de mobilidade.
O Brasil tem 5,4 milhões de deficientes visuais e 60 cães-guia. Hoje, a única forma de conseguir o animal é recorrer a instituições não-governamentais que treinam os cachorros ou os trazem do exterior. O usuário não tem custo.
Adylson Codogno Lima, 51, que fez curso na Inglaterra e treina cães-guia há 10 anos, relata as dificuldades da associação Cão Guia de Cego, fundada em 1981. Segundo ele, há 6.000 pessoas na fila e apenas oito cães em treinamento. No ano passado, conseguiu disponibilizar apenas três. "O número é pequeno porque dependemos de patrocínio."
O custo de cada cão, segundo Lima, fica em torno de R$ 30 mil, pois inclui o período de treinamento, que dura dois anos, ração, vacinas e exames.
Hoje, segundo a presidente do Instituto Iris, Thays Martinez, há quatro ou cinco instituições que fazem esse trabalho no Brasil. O governo de SP desenvolve projeto em parceria com a Faculdade de Medicina Veterinária da USP para treinar 25 adestradores e 30 cães por ano.
Estima-se que a vida útil do animal como cão-guia seja de, no máximo, oito anos. Em idade avançada, a visão começa a falhar e ele tem de ser trocado.