Envenenamento – Crime Ambiental
Os envenenamentos lideram o “ranking” de mortes abruptas e os animais de pequeno porte são mais vulneráveis a esse tipo perigos
Envenenamentos são ocorrências comuns nas clínicas veterinárias. Os gatos sofrem mais com envenenamentos, propositais ou não. No entanto, as clínicas recebem mais casos de cães envenenados.
A veterinária Renata Sardito, da clínica CPNA – Centro de Planejamento de Natalidade Animal, em São Paulo, explica: “Os gatos são mais atingidos por toda forma de violência e não é diferente no caso dos venenos. Mas, apesar disso, os cães vêm em maior quantidade à clínica para atendimento emergencial, porque os gatos costumam passear sozinhos, acabam ingerindo veneno fora de casa e morrendo sem socorro. Enquanto que os cães, normalmente, são envenenados no próprio quintal de casa ou nos passeios com o proprietário, facilitando a descoberta do envenenamento.”
Mortes por envenenamento lideram o “ranking” de mortes abruptas, seguidos por mortes por atropelamento. Os envenenamentos mais comuns acontecem com rodenticidas anticoagulantes, os mata-ratos e com estricnina.
“Através dos sintomas é possível ter uma ideia do veneno usado. Por exemplo: com rodenticidas anticoagulantes, o animal tem hemorragia, as mucosas ficam pálidas, ocorre letargia e depressão. Com a estricnina ocorrem convulsões, rigidez muscular, taquicardia, hipertermia, apneia e vômito”, diz Renata.
No Brasil, uma portaria de 1980 proíbe produtos contendo estricnina, que figura na lista da Anvisa de substâncias proscritas no país. No entanto, há locais que comercializam o veneno ilegalmente. Nos envenenamentos por inseticidas, os sintomas são salivação, lacrimação, diarreia, vômito, constrição das pupilas, contrações musculares, respiração asmática, convulsões e coma.
Outras substâncias que os proprietários podem considerar inofensivas também são culpadas por intoxicações de pequenos animais: remédios de uso humano; aspirina, mertiolate e água boricada, por exemplo. Sprays e inseticidas, desinfetantes, ceras e outros produtos de limpeza usados em casa podem também intoxicar o animal. Além disso, muitos proprietários ainda medicam seus animais com produtos de uso humano.
A veterinária relata um caso marcante que atendeu, em que o animal foi envenenado com chumbo e outro rodenticida anticoagulante, conforme verificou através da necropsia. “A pessoa que o envenenou provavelmente não sabia que ‘chumbinho’ é o nome popular de um tipo de veneno; e não o chumbinho usado como munição”, diz ela.
O chumbinho ou veneno 1080 é um dos venenos mais conhecidos pelo público, à base de estricnina. Muito utilizado no combate aos ratos, o monofluoracetato de sódio é considerado o mais perigoso do mundo porque não tem cor, cheiro ou sabor; é altamente solúvel em água e facilmente absorvido pela pele. Não há nenhum antídoto conhecido e uma colher de chá do veneno pode matar até 100 pessoas adultas.
A morte provocada pelo 1080 é difícil de determinar já que os sintomas se parecem com aqueles de um ataque cardíaco. Os sintomas aparecem cerca de 30 minutos após a exposição ao produto e a morte pode acontecer entre duas e sete horas. Vale ressaltar que o chumbinho pode ter várias composições, além das citadas acima, de acordo com a região do país em que é encontrado.
O chumbinho não mata apenas o animal envenenado, mas também os outros que estiverem dentro da sua cadeia alimentar. No Brasil, são registradas cerca de 200 mortes de crianças causadas pelo chumbinho por ano.
Envenenamentos provocados por mais de um tipo de veneno são uma prática comum, o que dificulta o socorro rápido. “Às vezes, os ‘agressores’ misturam dois ou mais venenos diferentes em uma mesma isca. O animal começa a ter vários sintomas, dificultando a identificação dos venenos. Neste caso eu costumo usar todos os antídotos juntos”, reforça a veterinária.
O envenenamento de animais está previsto na Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605, de 13/02/98). O artigo 32 da lei diz que é considerado crime ambiental “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”. A pena prevista é detenção de três meses a um ano e multa.
Agradecimentos a Renata Sanita Ardito, médica veterinária do CPNA (Centro de Planejamento de Natalidade Animal) especializada em esterilização.