A INFLUÊNCIA DA "BELEZA" NAS RAÇAS DE TRABALHO E
UTILIDADE
Este artigos dedicados às
raças de trabalho e utilidade com uma abordagem às consequências que a
comonente beleza têm nas referidas raças.
Beleza = “Propriedade das pessoas que nos induz a amá-las
provocando em nós deleite espiritual” ou “Conjunto de qualidades cuja
manifestação de sensibilidade produz um deleite espiritual ou um sentimento de
admiração”.
Moda = “Uso, modo ou costume que está em voga durante algum
tempo ou num determinado país”.
São definições gerais do léxico, intrinsecamente unidas, e
que, no que refere à moda, estão a afetar, em maior ou menor grau as raças de
trabalho.
Queremos deixar claro que fazemos referência ao criador de
beleza como aquele que dá prioridade à estética na seleção e cão de beleza ao
exemplar selecionado através desta técnica já que se encontram espécimenes em
algumas raças que, selecionados com os critérios ordenados por: saúde, carácter
e estética, conseguem excelentes resultados em exposições de beleza.
Efetivamente são muito poucos os exemplares de beleza que
oferecem um rendimento ótimo como “cães” em toda a acepção da palavra.
Desde logo, o ser humano encontra beleza noutro quando
descobre qualidades que valoriza como boas e amáveis. Assim ocorre,
racionalmente também, a respeito dos seres vivos. Mas, quando se admira um objeto
ou coisa, estabelecer que se ama o dito objeto, não deixa de ter conotações
subjectivistas. Deste modo, a maioria dos criadores que só seleccionam beleza,
chegam a “adorar” a estética porque nunca estudaram a fundo o carácter do
animal. Alguns juízes e responsáveis de Clubes caninos, devendo ser os garantes
tanto de uma como de outra qualidade, chegam a valorizar somente determinadas
linhas de beleza e os seleccionados nas exposições como sendo os mais “aptos”.
Como consequência, raças tão imponentes como o Cão de Pastor Alemão tenha que
ser diferenciada e compartimentada em Pastores Alemães de Trabalho e Pastores
Alemães de Beleza. Para eles é endereçada a nossa humilde pergunta: Von
Stephanitz criou uma raça, ou duas?
Se desvirtuarmos e não valorizarmos as provas de trabalho de
origem alemã, estamos irremediavelmente a acabar com o último filtro de
carácter e temperamento e, então, só ficará desta nobre raça uma foto numa
antiga revista da especialidade.
Quantas vezes observamos grandes campeões de beleza que,
mesmo à saída dos ringues, enfrentam possíveis situações que encaram como uma
ameaça (como por exemplo, o esbracejar ou o bater do pé de algum espectador,
que poderá estar junto ao ringue, com o intuito de testar em ambiente hostil um
exemplar que até lhe pode interessar como reprodutor para uma fêmea sua) e,
perante isso, rapidamente utilizam o mecanismo de fuga para resolver os seus
problemas de medo?
Esta é uma das muitas situações explicativas do que se pode
fazer com uma excelente raça quando se trata de a equiparar a outra, com o
mesmo nome, que foi obtida para luzir nos ringues de beleza.
Analisemos o problema sob o ponto de vista etológico. As
endogamias (criação intensiva em consanguinidade), principalmente as que estão
ligadas a muitas raças, é possível que favoreçam uma elite de criadores que
valorizam o factor crematístico (a área mercantilista de uma actividade) do
mercado mas nunca uma espécie, mesmo que seja doméstica. A existência de alelos
recessivos pode trazer como consequência, se cruzarem-se dois portadores, a
fixação de um mau carácter cromossomático. Quem julga ou detecta essa tara?
Podemos assegurar que essa tara não se tornará moda? Têm os criadores
conhecimentos de genética para poder lidar conscientemente com estes problemas?
Não tomaremos como doutrina o que realmente é uma mania de alguém não preparado
mas com uma grande dose de poder fáctico?
A resposta está na natureza que dota as fêmeas, de quase
todos os mamíferos, de um mecanismo de protecção do seu bem mais precioso, o
óvulo. Um macho pode equivocar-se porque sobra-lhe esperma, mas uma fêmea só
produz alguns óvulos nos seus ciclos estrais e, sendo assim, ela procurará os
melhores pais para os seus filhos. Seleccionará caracteres de dominância e
perfeição física (Robertson, 1979) ou a capacidade de sobrevivência e obtenção
de recursos (Verner & Wilson, 1966).
Dado que a fêmea desta espécie não está em liberdade devemos
ser nós que orientamos o seu Processo de Acasalamento tentando obter a maior
variabilidade como elemento adaptativo e degrau evolutivo. A selecção do futuro
semental deverá guiar-se pelos parâmetros, e por esta ordem: Saúde, Carácter e
Estética, conceitos idênticos àqueles que em liberdade resumiríamos como
Atitude.
Publicada por Sílvio Pereira