sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Introdução sobre como funcionam os cães de resgate

Quando você percebe que está perdido, já passou pela mesma árvore três vezes e percebe que o pôr do sol ocorrerá em 20 minutos, um cão querendo brincar de cabo-de-guerra pode ser a sua melhor opção para voltar para casa. Os cães de busca e resgate são inteligentes, ágeis e obedientes, mas seu grande "interesse em brincar" é o que os impulsiona a procurar por uma pessoa desaparecida, descer íngremes paredões de rocha e grutas que fariam uma pessoa claustrofóbica sair correndo gritando.
 
Foto cedida
Equipe de Busca e Resgate K9
Basicamente, a tarefa de um cão de busca e resgate é descobrir a origem do cheiro de um ser humano e informar ao treinador onde ele está. Neste artigo, aprenderemos o que os cães de busca e resgate fazem e como eles fazem, veremos o que está envolvido no treinamento desses cães e descobriremos como é uma verdadeira missão de busca e resgate.

Fundamentos de um cão de busca e resgate

Alpha Dog
Ainda que a busca, de fato, seja realizada pelo cão, é o treinador quem sempre está no comando. Os treinadores de cães de busca e resgate são voluntários e passam por um treinamento exigente para realizar seu trabalho: eles têm boa forma física para trabalhar em condições extremas, sabem se locomover em muitos ambientes e são capazes de prestar atendimento médico emergencial (muitos treinadores possuem o certificado de técnico em emergência médica). Eles também podem se comunicar com seus cães como se falassem a mesma língua, o que, de uma certa forma, é verdade. Os cães e os treinadores buscam a linguagem corporal um do outro, e um cão inteligente pode desenvolver um vocabulário de 50 palavras além de interpretar o tom de voz de seu treinador.
Os especialistas estimam que um único cão de busca e resgate pode realizar o trabalho de busca de 20 a 30 seres humanos. Também não se trata apenas de cheiros: a audição superior e a visão noturna dos cães também contam. O tempo sempre é um problema quando se trata de busca e resgate. Em uma situação de avalanche, por exemplo, cerca de 90% das vítimas continuam vivas 15 minutos após o soterramento, mas 35 minutos após o acidente somente 30% delas sobrevive. Apesar da maioria das vítimas de avalanche não sobreviver, suas chances aumentam quando a busca é realizada por cães. Mesmo em casos nos quais as vítimas supostamente estão mortas, os cães são bens inestimáveis: eles localizam os corpos para que os membros das famílias possam dar a seus entes queridos um enterro adequado.
Os cães de busca e resgate podem fazer coisas incríveis, incluindo descer desfiladeiros com seus treinadores, localizar uma pessoa dentro de um raio de 500 metros, encontrar um corpo sob a água, subir escadas e andar por uma viga instável em um prédio desmoronado, mas tudo isso com um único objetivo: encontrar cheiro de ser humano. Esse cheiro pode ser de uma pessoa viva, de um corpo, um dente humano ou uma peça de roupa. Os cães de busca e resgate localizam pessoas desaparecidas, buscam sobreviventes e corpos em áreas de desastres e localizam evidências em cenas de crimes, tudo isso se concentrando no cheiro de um ser humano.

Foto cedida FEMA, fotografia de Andrea Booher
Um membro da Força-Tarefa Francesa de Busca e Resgate Urbano trabalha com seu cão para localizar vítimas no local do desabamento do World Trade Center
Para as pessoas, isso pode parecer uma tarefa difícil. Mas para os cães, cujo sentido do olfato é cerca de 40 vezes mais aguçado do que o de uma pessoa, isso é bem fácil. Para um cão, o cheiro de um ser humano é tão forte e distinto quanto o cheiro de um bolo de chocolate recém-assado é para uma pessoa. O corpo humano apresenta um cheiro característico: a pele constantemente solta células mortas chamadas cavéolas, que contém bactérias e exalam esse odor. Ainda que seja impossível saber ao certo, a maioria dos especialistas acredita que os cães de busca e resgate sentem o cheiro dessas cavéolas que formam um "cone olfativo" que o cão pode apontar facilmente durante uma busca. As células da pele das pessoas exalam um odor único, o que possibilita ao cão cheirar uma peça de roupa e procurar especificamente a última pessoa que a vestiu.

Foto cedida Rural Responder Inc.
O pastor alemão é uma raça popular de busca e resgate
Apesar de alguns cães demonstrarem um desejo maior de farejar que outros, todo cão tem um olfato muito apurado. Os cães de busca e resgate podem ser cães de raça ou vira-latas. Alguns treinadores têm suas raças preferidas, mas qualquer cão de porte médio a grande, saudável, com inteligência razoável, boa capacidade auditiva, cuja personalidade não seja agressiva e com um forte impulso de brincar/caçar (um desejo intenso e constante de recuperar um brinquedo) pode potencialmente praticar busca e resgate. Os cães de busca e resgate precisam ser grandes o suficiente para andar sobre terrenos traiçoeiros e retirar escombros do caminho, mas pequenos o suficiente para ser transportados facilmente. De fato, atualmente você não encontra muitos cães de busca da raça São Bernardo porque eles podem ser inconvenientes. O Pastor Alemão (site em inglês) é uma raça de cão de busca e resgate popular: geralmente são inteligentes, ágeis e obedientes e sua pelagem com duas camadas serve de isolamento em condições climáticas severas. Cães de caça e pastoreio como os Labradores (site em inglês), Retrievers amarelos (site em inglês) e os Border Collies (site em inglês) também tendem a ser bons no trabalho de busca e resgate devido a seu impulso caçador muito forte. Muitas pessoas consideram osBloodhounds (site em inglês) a melhor raça para rastreamento: suas orelhas gigantes e dobras faciais servem para coletar e concentrar partículas de cheiro em suas narinas, o que torna seu olfato extremamente aguçado e discernente. Um Bloodhound pode identificar uma trilha semanas após outras raças não terem conseguido.
Isso nos leva a uma distinção entre os tipos de cães de busca e resgate: alguns cães seguem, enquanto outros buscam.

Especialidades dos cães de busca e resgate

Nem todos os cães de busca e resgate realizam o mesmo tipo de busca. Alguns são cães de rastreamento (ou trilha) e outros são cães farejadores (ou busca). Os tipos se sobrepõem, mas a distinção entre os dois orienta o processo de treinamento e como o cão participa em missões. Os cãesrastreadores trabalham com seu focinho no solo. Eles seguem uma trilha de cheiro humano em qualquer tipo de terreno. Esses cães não buscam, eles seguem: os cães rastreadores precisam de um ponto inicial, um item com o cheiro da pessoa com o qual trabalhar e uma trilha não-contaminada.

Foto cedida CCSAR
Os cães rastreadores são mais úteis para buscas em locais amplos e desabitados
No caso de rastreamento, o tempo é um problema. Se uma criança desaparece do pátio da escola ou um prisioneiro escapa da prisão, um cão rastreador pode ser chamado para seguir o cheiro da pessoa imediatamente após o desaparecimento, antes que outros grupos de busca e equipes policiais contaminem a trilha de cheiro.
Os cães farejadores, por outro lado, trabalham com seus focinhos no ar. Eles captam o cheiro humano em qualquer local nas redondezas: eles não precisam de um ponto inicial "visto pela última vez", um item com o qual trabalhar ou uma trilha de cheiro, e o tempo não é um problema. Enquanto os cães rastreadores seguem uma trilha de cheiro particular, os cães farejadores captam um cheiro transportado nas correntes de ar e buscam sua origem: o ponto de sua maior concentração.

Foto cedida CCSAR
Os cães farejadores captam o cheiro humano transportado em correntes de ar
Os cães farejadores podem ser chamados para encontrar um praticante de caminhadas desaparecido que esteja "em algum lugar de um parque nacional", uma vítima de avalanche que esteja 4,5 metros abaixo da neve ou uma pessoa soterrada sob os escombros de um edifício. Os cães farejadores podem se especializar em um tipo particular de busca, como:
  • cadáver - os cães procuram especificamente pelo cheiro de restos humanos, detectando o odor dos gases de decomposição do corpo humano, além do cheiro das cavéolas. Os cães farejadores de cadáveres podem encontrar algo tão pequeno quanto um dente humano ou uma única gota de sangue;
  • água - os cães buscam por vítimas de naufrágios. Quando um corpo está sob a água, as partículas da pele e os gases sobem à superfície, assim, os cães podem sentir o cheiro de um corpo mesmo quando ele está completamente imerso. Devido ao movimento das correntes de água, os cães raramente podem apontar a localização exata de um corpo. Geralmente mais de uma equipe de cães de busca e resgate vasculham a área de interesse, e os mergulhadores usam o ponto de alerta do cão, juntamente com a análise da corrente da água, para estimar o local mais provável do corpo;

    Foto cedida CCSAR
  • avalanche - os cães buscam pelo cheiro de seres humanos soterrados até 4,5 metros abaixo da neve;

    Foto cedida Busca e Resgate 911BC K9
  • desastre urbano - a especialidade mais difícil da busca e resgate: os cães que trabalham com desastres urbanos buscam por sobreviventes humanos em escombros de edifícios. Eles devem percorrer terrenos instáveis e perigosos;

    Foto cedida FEMA, fotografia de Andrea Booher
    Buscando por sobreviventes nos destroços do World Trade Center
  • áreas amplas e desabitadas - os cães buscam pelo cheiro humano em amplas áreas desabitadas;
  • evidência/item - os cães buscam por itens que carreguem o cheiro humano.
Os cães que buscam por cadáveres e os que buscam em água são os únicos tipos especificamente treinados para farejar restos humanos, ainda que todos os cães de busca e resgate sejam capazes de dar o alerta sobre restos humanos caso os encontrem. Em grandes desastres, como o ataque com bomba na Cidade de Oklahoma, em 1995, o desmoronamento do World Trade Center, em 2001, e o terremoto no Paquistão, em 2005, cães farejadores de todas as áreas de especialidade ajudaram na busca por sobreviventes. De fato, isso gerou problemas para alguns deles porque os cães de busca e resgate treinados para localizar pessoas vivas podem se desencorajar quando encontram apenas corpos. Os cães entendem que encontrar pessoas vivas é preferível, em parte devido a seu treinamento, em parte devido às reações de seus treinadores e em parte porque as pessoas vivas geralmente podem dar uma retribuição de alguma forma (e os cães buscam por recompensas). Na Cidade de Oklahoma e no Marco Zero, os treinadores e bombeiros escondiam no entulho uma pessoa viva para que os cães a encontrassem, se sentissem bem sucedidos e recebessem sua recompensa.
Em desastres urbanos, nos quais as pessoas estão presas sob pilhas de escombros, a força de um cão, sua confiança e agilidade são fatores-chave. Porém, mais importante que isso é a obediência: um cão fora de controle é um estorvo em situações de busca. É aqui que os padrões de busca e resgate entram.

Padrões dos cães de busca e resgate


Foto cedida Emergency Service Detail
Os padrões dos Estados Unidos para equipes de busca e resgate são os padrões de certificação FEMA (Agência Federal Americana para o Tratamento de Emergências) para trabalho em desastres urbanos, os quais são muito difíceis de cumprir. Em "The Art of Heroism" (A Arte do Heroísmo), Wilma Melville, presidente e fundadora da National Disaster Search Dog Foundation (Fundação Nacional de Cães de Busca para Desastres) e membro de uma unidade de busca e resgate da FEMA, na Califórnia, explica, "A busca em áreas amplas e desabitadas representa uma atmosfera amigável para os cães. Mas na busca e resgate urbanos, eles trabalham em ambientes artificiais, no meio de embrulho, tubulações, coisas minúsculas". Menos de 100 equipes de cães/treinadores no país têm o certificado FEMA. As organizações de busca e resgate locais têm seus próprios padrões para a qualificação de "apto para missão", geralmente baseados em diretrizes desenvolvidas por organizações como a American Rescue Dog Association - Associação Americana de Cães de Resgate (site em inglês) e a National Association for Search and Rescue - Associação Nacional para Busca e Resgate (site em inglês).
No Brasil
A Associação de Busca, Resgate e Salvamento com Cães do Brasil (Abresc) é a referência em treinamento de cães de resgate. Ela é a associada à Organização Internacional de Cães de Resgate (IRO). 
A Equipe de Busca e Resgate K-9 localizada em Dolores, Colorado, define três níveis de habilidade básicos. Para se tornar operacional com esse grupo, um cão de busca e resgate deve ser aprovado em cada nível de teste.
Nível I: obediência básica
O nível I abrange comandos básicos e temperamento do cão. Para passar nesse grupo de habilidades, o cão precisa se sentir confortável com estranhos não-ameaçadores e outros cães, prestar atenção ao treinador enquanto caminha com uma coleira solta, andar no meio de uma multidão e entre distrações sem perder o foco e obedecer aos comandos básicos como "senta", "deita", "rola", "fica" e "venha".
Teste: enquanto o treinador está andando com o cão com uma coleira solta, eles encontram uma distração visual e uma auditiva, como uma pessoa correndo em frente ao cão e o barulho de uma porta batendo. O cão pode se assustar ligeiramente, mas ele não deve entrar em pânico, latir ou tentar fugir.
Nível II: profissionalismo canino
O nível II testa o que a Equipe de Busca e Resgate K-9 chama de "profissionalismo canino". O cão obedece consistentemente aos comandos básicos e às combinações de comando e não se estressa quando se separa do treinador. Passar nesse nível significa que o cão pode trabalhar efetivamente com outro treinadores, se necessário.
Teste: o treinador deixa seu cão em um grupo de cães de busca sob o cuidado de outro treinador. Ele coloca seu cão em uma posição de "sentado" ou "deitado" e ordena ao cão para "esperar". O treinador então se afasta pelo menos 9 metros, até onde o cão não pode vê-lo. Muitos treinadores então assumem uma posição de vigilância, observando todos os cães. Isso dura, pelo menos, 15 minutos. Cada cão deve permanecer na posição "sentado" ou "deitado" sem qualquer comando adicional até a volta de seu treinador.
Nível III: habilidade física e mental

Foto cedida Busca e Resgate 911BC K9
Cão de busca e resgate e seu treinador fazendo rapell para descer
Os níveis I e II testam a obediência necessária em uma situação de busca. O nível III aborda os rigores físicos e mentais do trabalho. O cão sabe lidar com as condições e expectativas de busca e resgate?
Para passar desse nível, o cão deve andar através de um túnel, subir uma estrutura em forma de A com uma inclinação mínima de 45° em cada lado, entrar em uma pá de retroescavadeira com seu treinador e ser içado a, pelo menos, 3 metros sem tentar pular e sentar-se em um carrinho puxado por um ATV ou snowmobile (veículo para andar sobre a neve) sem tentar pular. Ele também viaja em um barco sem tentar pular, se aproxima de um helicóptero sem demonstrar medo e aceita ser içado no ar enquanto usa um peitoral.
RastreamentoA equipe de busca e resgate K-9 tem padrões adicionais para cães de restreamento: o nível III é o rastreamento em áreas amplas e desabitadas, o nível II é o rastreamento suburbano e o nível I é o rastreamento urbano. A qualificação para o rastreamento urbano envolve o teste abaixo. 
Uma pessoa (o alvo) deixa um rastro de 500 metros a 1,5 quilômetro (se move de um ponto até o outro) em uma área da cidade altamente populosa e com tráfego intenso. O alvo cruza pelo menos duas interseções, realiza pelo menos três giros em ângulo reto, desce duas quadras de becos e deixa um item com cheiro em um beco. Assim que o alvo deixa a trilha, outra pessoa cruza a trilha em pelo menos um lugar acrescentando outra trilha de cheiro para enganar o cão. Trinta minutos após o alvo estar em sua posição final, o treinador coloca o cão na trilha de cheiro. O cão deve completar a trilha (encontrar o alvo) em menos tempo do que o alvo levou para criar a trilha. O cão enfrenta distrações durante todo o teste, incluindo cães e gatos soltos, outras equipes de busca e resgate e maquinário pesado em funcionamento, além de confrontar obstáculos, incluindo cercas de arame farpado e paredes de tijolos que o cão deve superar desviando-se deles (ou pulando sobre eles) para permanecer na trilha.
Um cão e seu treinador precisam treinar muito para passar nos padrões de qualificação do trabalho de busca e resgate. O treinamento inicia-se quando o treinador identifica a recompensa ideal para o cão. Geralmente ela é muito fácil de descobrir.

Treinamento de cão de busca e resgate

Comandos comuns
  • Ache - iniciar uma busca por cheiro humano
  • Suba - escalar um obstáculo
  • Túnel - rastejar através de um túnel
  • Deixe - ignorar uma distração em particular
  • Mostre - levar o treinador de volta ao local de uma descoberta
Pode parecer que um cão obsessivamente focado em brincar não daria um bom cão para o trabalho. Mas para o trabalho de busca e resgate, esta é uma característica perfeita. Um cão que buscará uma bola de tênis por horas provavelmente andaria três metros de neve, subiria uma montanha e desceria uma barreira rochosa que sangraria suas patas para encontrá-la (e encontrar alguém para atirar o objeto para ele novamente). Para esse cão de busca e resgate, localizar a origem de um cheiro humano significa um jogo de "ache a bola". Esta é a base do treinamento de busca e resgate: associar o cheiro humano com alguma coisa que o cão deseja muito.
As principais tarefas de um cão de busca e resgate são localizar um cheiro humano ("ache") e efetivamente alertar seu treinador para a sua localização. O treinamento de busca e resgate garante que um cão pode completar essas tarefas em todas as condições, independentemente do clima ou de distrações. Dependendo da área de especialidade do cão, seu treinamento central também pode incluir o lembrar-localizar ("mostre-me"), no qual ele encontra uma pessoa, retorna ao seu treinador e então o leva de volta até a pessoa, ou a lealdade com a vítima, na qual o cão permanece com a pessoa e alerta seu treinador por meio de latidos.

Foto cedida Isle of Man Search and Rescue
Este cão está alertando seu treinador po meio de latidos. Ele permanecerá com a vítima até a chegada de ajuda.
A maioria dos cães de busca e resgate mora e treina com seus treinadores. São necessárias cerca de 600 horas de treinamento para um cão estar apto a atuar. Às vezes, associações de busca e resgate adotam animais de abrigos para cães com o propósito específico de treiná-los para busca e resgate: eles são treinados em uma instalação especial e depois formam uma equipe com um treinador. Wilma Melville, da Fundação Nacional de Cães de Busca para Desastre, visita os abrigos para cães procurando por animais com "uma grande vontade de buscar um brinquedo arremessado, juntamente com algumas características que podem afastar outras pessoas que desejam adotar cães de abrigos: ousadia e um grande impulso para caçar" [ref]. Os potenciais cães para busca e resgate também precisam ser obedientes e atentos, ter um temperamento amigável (eles vão trabalhar próximos de estranhos e outros cães em uma situação de busca) e ter um forte desejo de agradar. Obediência e concentração são cruciais. Um treinador deve poder controlar seu cão todo o tempo e em todas as situações. Mas um cão de busca e resgate que não seja capaz de agir por conta própria é inútil (cães farejadores trabalham sem coleira, portanto, o treinador nem sempre estará por perto para dar os comandos). O cão de busca ideal pode resolver problemas sozinho, mas sempre está atento ao seu treinador.
A abordagem geral para treinar um cão para busca e resgate não é diferente do treinamento de um cão para realizar qualquer outro tipo de tarefa. O primeiro passo é descobrir por qual recompensa o cão trabalhará, e sempre imediatamente recompensá-lo quando ele faz a coisa certa. Os cães não fazem caridade: eles trabalham somente pela recompensa. Durante o treinamento, você associa essa recompensa com cada coisa que deseja que o cão faça (nesse caso, localizar cheiro humano e alertá-lo de uma maneira padrão). O treinamento se inicia com tarefas muito simples e progressivamente vai se tornando mais complexo à medida que o cão completa cada nível.
Exemplo: treinamento de avalancheTreinar um cão para "achar" tem muito mais a ver com direcionar um cão do que ensiná-lo. Os cães têm uma inclinação natural para localizar cheiros e o treinamento de busca e resgate envolve deixar o cão saber qual cheiro você deseja que ele localize e onde esse cheiro pode estar. Sempre que os cães completam uma tarefa, eles ganham uma recompensa. Vamos supor que esse cão em particular trabalhe para brincar de cabo-de-guerra com uma meia fedorenta.
Para o treinamento de avalanche, o primeiro passo é simplesmente fazer o cão procurar sob a neve. O treinador cava um buraco na neve e uma segunda pessoa segura o cão enquanto o treinador faz um estardalhaço, correndo e pulando dentro do buraco. O cão observa o tempo todo, geralmente fazendo força para seguir o treinador. Então o assistente solta o cão e ele corre para encontrar o treinador. Quando ele o encontra, eles brincam de cabo-de-guerra. Isso estimula o interesse do cão em procurar pessoas.
O próximo passo é aumentar a quantidade de tempo que o assistente segura o cão. Isso aumenta o nível de memória e atenção exigido para encontrar o treinador. Primeiro, o assistente segura o cão por, digamos, cinco segundos. O cão encontra o treinador e brinca de cabo-de-guerra. Daí o assistente segura o cão por 10 segundos, depois um minuto, depois cinco minutos e assim por diante. Sempre que o cão encontra o treinador (o que é muito fácil porque ele está observando o treinador se esconder no mesmo buraco sempre) ele ganha o seu cabo-de-guerra.
A essa altura, o cão está totalmente envolvido com o jogo, então o treinador acrescenta uma complicação: um assistente cobre o treinador com alguns centímetros de neve. Dessa vez, quando o cão corre para encontrar o treinador, ele não pode vê-lo, mas pode sentir o seu cheiro. Assim ele começa a cavar. Quando o cão o encontra, ele encontra a sua meia fedorenta. Dessa forma, o cão descobre que as pessoas podem estar sob a neve e que o cheiro humano que emana da neve significa que se ele cavar naquele local, uma pessoa aparecerá para brincar com ele. Depois, o treinador e o assistente trocam de lugar: o treinador segura o cão enquanto o assistente se esconde sob a neve. Nesse estágio, o jogo está bem estabelecido e o cão sabe o que precisa fazer para obter sua recompensa.

Foto cedida Busca e Resgate 911BC K9
Exercício de treinamento em avalanche
Finalmente, as distrações são acrescidas ao jogo. O cão começa a jogar o jogo do "ache" com pessoas e cães se movimentando ao redor da área, juntamente com o equipamento de busca em avalanche, como mastros e pás, espalhados pela neve. Em uma busca real em avalanche, as distrações estão em toda parte e o cão deve ser capaz de se concentrar na busca, apesar do caos ao seu redor.
Depois que o cão compreende o jogo do "ache", treiná-lo para alertar sobre a descoberta é muito fácil. Geralmente os cães têm um instinto de alerta natural que os treinadores somente reforçam ou encorajam. No caso de descobertas em avalanche, normalmente os cães cavam na área onde detectam cheiro humano. Se uma recompensa é dada imediatamente após uma descoberta correta (o que significa que o cão está cavando no lugar certo), o cão continuará a alertar dessa maneira.
Um cão de busca e resgate pronto para atuar em campo pode se concentrar na tarefa atual haja o que houver (se o seu treinador o estiver comandando). O cão mantém a vigilância e a dedicação à busca sob qualquer condição climática e percorre terrenos traiçoeiros sem perder a confiança.

Foto cedida Fundação de Cães de Busca
Um cão de busca e resgate tem a confiança para realizar tarefas que não fazem parte de seu instinto natural
Um cão de busca e resgate andará sobre uma ponte de corda, se for necessário, abaixando o seu centro de gravidade para minimizar a oscilação. O cão ignorará um sanduíche colocado no meio de arbustos e conterá o impulso de cheirar outro cão de busca e resgate se ele estiver cumprindo um comando "ache". Esse nível de concentração não tem nada a ver com levar o trabalho a sério, mas sim com levar a brincadeira a sério. Seja um exercício de treinamento ou uma busca real, tudo é um jogo para o cão.
Treinamento do treinador
Em média, um treinador de busca e resgate leva cerca de mil horas para estar apto a atuar em campo. Ele aprende a treinar adequadamente um cão para localizar e alertar e recebe treinamento em navegação terrestre, padrões climáticos, comunicação via rádio, habilidades com mapas e bússola, sobrevivência em áreas amplas e desabitadas e procedimentos de primeiros socorros avançados, incluindo o CPR (ressuscitação cardiopulmonar).
Hannah Harris e seu Pastor Alemão, Grace, treinaram busca e resgate em Maryland. Eles passaram 48 horas por mês treinando. Harris observa o nível de multitarefa exigido para um treinador vasculhar seu setor:
    É extremamente importante que você vasculhe completamente o seu próprio setor e que você sempre saiba onde está no caso do seu cão o alertar... mas não descobrir algo. Uma área pode ser identificada para buscas adicionais se várias equipes alertarem em direção a um único local, mesmo que nada tenha sido descoberto. Saber exatamente onde você está parece simples, mas nossa equipe treina em locais diferentes semanalmente, assim não conseguimos conhecer a área muito bem e precisamos contar com nossos mapas topográficos. Eu tenho um bom senso de direção que me ajuda nas buscas em áreas selvagens, mas foi difícil para mim deixar isso de lado e confiar em minha bússola. O seu mapa e a sua bússola são mais confiáveis que o seu instinto, particularmente quando se trata de navegação noturna. À noite, as condições de busca são melhores para os cães devido à maneira como o ar se move, mas é muito difícil manter seu ritmo de caminhada, observar o seu cão com uma lanterna, controlar a sua posição no mapa e a direção para a qual você está se movendo. A maioria das buscas reais tem uma equipe de cães e um guia para ajudar com a navegação, mas o seu guia pode ou não ser confiável e você deve ser capaz de fazer isso sozinho para se qualificar para uma operação de busca.