terça-feira, 20 de outubro de 2009
##A Agressividade Canina I ##
Devido à importância e seriedade que este tema tem, iniciamos agora uma série de artigos relacionados com esta área do Comportamento Canino que tem levantado tantas controvérsias, erros e inexactidões quando é abordado. Debruce-mo-nos então, sem preconceitos, sobre a "Agressividade Canina". Parte 1Compreender a agressividade caninaActualmente, a agressividade é o maior e mais complexo dos problemas de comportamento canino, principalmente devido à maneira como é publicitado e também devido ao alcance social que o mesmo atinge. Contudo, a informação que é veiculada pelos média deve ser filtrada e interpretada com precaução, uma vez que existem muitos factores implicados no fenómeno que podem confundir e desvirtualizar a realidade. Por exemplo, segundo um estudo realizado em 2000 só 9,3% das vítimas de mordidas de cães são observados em hospitais. Outro factor importante é a raça, já que algumas são mais mediáticas que outras e consequentemente aparecem com mais frequência na imprensa e, na maioria dos casos, não é solicitado a um especialista em comportamento canino uma análise à situação nem uma pesquisa ao historial dos cães agressores. Outra estatística diz-nos que, nos Estados Unidos, as mordidas de cães, por ano, variam entre as 500.000 e os 4,7 milhões.De todos os ataques registados, parece que os mais frequentes são os que ocorrem em casa da própria vítima e contra pessoas conhecidas da família ou amigos. Dentro desta estatística são mais frequentes as mordidas a crianças. Segundo Sacks (um dos investigadores que estudaram este fenómeno) é 1,5 vezes mais provável que uma criança seja mordida e 3 vezes mais provável que necessite de tratamento. Além disso correm maior risco os meninos entre os 5 e os 9 anos mais que as meninas e encontrando-se as lesões na cara, pescoço e cabeça com maior frequência.Segundo outros estudos parece que as mordidas ocorrem frequentemente sem provocação por parte da vítima. Mas também é certo que a falta de conhecimento da linguagem canina pode levar-nos a estabelecer interacções com o cão sem nos aperceber dos sinais prévios de ataque. Sobre isto, podemos encontrar como causas dos vários ataques, as seguintes:• Falta de Socialização do cão• Comportamento da pessoa interpretada pelo cão como provocatória• Falha na interpretação por parte do cão ou do humano acerca das intenções de cada um. Segundo os investigadores Podberscek e Serpell (1997) os proprietários de cães muito agressivos tendem a permanecer num estado contínuo de excitabilidade e tensão podendo, como consequência, serem emocionalmente instáveis pelo qual têm tendência a aplicar castigos indiscriminadamente e sem coerência, podendo assim, aumentar as condutas agressivas já existentes. Chegam a castigar o cão com admoestações verbais fortes e violência física, sem pensarem que poderá ser mais adequado um treino em obediência.Como tem sido sublinhado nos vários artigos que temos publicado, o comportamento é o resultado da interacção complexa entre genes e meio ambiente. Sendo assim, segundo a população estudada e os dados disponíveis, podemos encontrar estatísticas que dão como mais frequentes os ataques de fêmeas de tamanho pequeno dentro da própria família, de machos castrados com menos de 1 ano de idade, de cães entre 1 e 3 anos ou de cães com determinadas características fenótipas que se assemelham a raças muito massacradas pelos meios de comunicação.Como realçámos no artigo dedicado ao imprinting e socialização, estes dois processos de aprendizagem têm um papel fulcral na prevenção deste problema social, assim como a capacidade de certas raças para interpretar os sinais dos seus congéneres e serem capazes assim, de resolverem os conflitos mediante comunicações intra-especificas de apaziguamento e não com lutas crónicas e intermináveis. E este é outro dos efeitos da domesticação a que se somam a antropomorfização levada a cabo pelos proprietários e a incapacidade de interpretar a linguagem dos seus cães. Reconhecer um comportamento agressivoDo ponto de vista psicológico, a agressividade é a activação de uma resposta ante um estímulo de stress adverso (negativo) para recuperar o controlo e/ou evitar a perca do mesmo. Quando falamos em stress referimo-nos a qualquer força imposta ao cão que requer ou obriga a mudanças ou adaptação.Na maioria das vezes os donos não têm consciência que os seus cães estão sempre a aprender. Nem tão pouco têm a noção de que muitas vezes estão a reforçar condutas agressivas. O nosso cão aprende todos os dias nos encontros com outros cães e pessoas, dentro de casa, nos jogos e interacções connosco e muito mais aprende se permitimos que o cão saia só e possa deambular pelas ruas.Reforçamos involuntariamente a agressividade se num desses encontros dizemos ao nosso cão: “calma boby, tranquilo” ou simplesmente o acariciamos em vez de ordenarmos que se sente ou deite. Recompensamo-lo igualmente quando o olhamos com ar de aprovação da acção.Se o resultado da agressão é a tomada de controlo da situação por parte do cão e assim resolve o conflito, este comportamento converte-se num êxito para ele e voltará a usá-la quando se lhe apresente o momento adequado numa situação se não igual, pelo menos comparável.Muitas vezes os donos de cães não reconhecem que o seu pode ser agressivo, até à altura em que este morda e provoque graves danos. Apesar disso existem outros sinais ou condutas que podem ser entendidas por agressivas, como comportamentos de evitação, rosnadelas, posturas desafiantes e intenção de morder.Para que o especialista em comportamento canino possa compreender o grau e tipo de agressividade do cão que está a analisar, seria necessário que o dono descrevesse fielmente a ou as situações em que o cão tem esse comportamento, coisa que na maioria das vezes não sucede devido à tendência ao antropomorfismo do dono. Como é muito difícil filmar todas as situações, é de extrema importância que o dono relate fielmente tudo o que se passou e o que despoletou a agressão e sobre os momentos anteriores e posteriores à mesma, os cães a as pessoas participantes.
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